quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

histórias e percepções de Belém

Informações do Diário do Pará

Belém tem muitas faces, histórias e tempos. Arraigada na vida de seus moradores, a cidade narra sua existência entre atos, coadjuvante de acontecimentos que perspassam em seus espaços, ruas e praças. E quem melhor para contar a verdadeira Belém se não aqueles que a percorrem diariamente? Pessoas anônimas que são as verdadeiras responsáveis por escrever o passado e ditar o futuro da cidade onde vivem.
“Belém, cidade abençoada/ Tuas manhãs ensolaradas/quanta beleza tem/Te amo Belém”. Os versos são parte de uma poesia composta pelo comerciante Helito Modesto, que há 36 anos trabalha no ponto turístico mais famoso da capital paraense, o Ver-o-Peso. Além de estar diariamente em um dos espaços de referência do município, ele tem uma trajetória semelhante a de muitos belenenses, marcada por trabalho, suor e dedicação.
Assim como milhares de habitantes, seu nascimento foi em outro município, Curuçá, no nordeste do Estado. Mas as oportunidades e atrativos de Belém fizeram com que ele viesse ainda jovem em busca de emprego. Sozinho, ou como prefere dizer “ao lado de Deus”, ele arranjou trabalho na antiga fábrica União, ainda na década de 70. Ao se casar com uma moça que trabalhava no comércio, ele adquiriu um espaço próprio e, com suor e trabalho cresceu na profissão.

“Para mim a marca do paraense é o seu povo, que trabalha sem perder a receptividade”, opina. No começo, o casal trabalhava de 5h à meia-noite, sempre mantendo a qualidade no preparo e no atendimento. O zelo trouxe o sucesso. Hoje, Helito é dono de seis boxes no espaço de alimentação do Ver-o-peso. Além dos turistas e colegas usuais, o local recebe visitas ilustres, segundo ele, como a do ex-governador Almir Gabriel.

Perto dali, as ruas mais antigas de Belém trazem um segredo e, às vezes, também uma surpresa. Há alguns meses, Jardel Dias diminuiu o ritmo de trabalho em um estúdio musical para se dedicar às andanças pela cidade. Com trajes inusitados ele tenta levar diversão para o dia-a-dia corrido dos habitantes da capital.

“Acho que todos têm uma criança dentro de si, por isso o meu objetivo é transmitir alegria e brotar sorriso nos rostos das pessoas”, afirma. Milhares de belenenses já viram Jardel vestido de Michael Jackson (seu maior ídolo), Peter Pan, Guarda Maluco e Super Homem. “Minha próxima aquisição vai ser uma fantasia do saci, mas ainda faltam verbas para a compra do cachimbo”, explica. O andarilho conta que não trabalha nas ruas todos os dias, mas que ao menos quatro vezes na semana sente a necessidade de “sair por aí”.

“Ando sem rumo e sem destino definido. Aonde me der vontade, eu vou. Já cheguei a andar por horas sem parar”, afirma. No mundo da fantasia, Jardel assume a vivência que sempre quis, mas o destino lhe tomou. Morando com três famílias diferentes durante a infância, ele mora hoje com amigos no estúdio onde trabalha. “Meu maior sonho é viver do humor e esquecer um pouco essa realidade cruel”.

Pensar na vida é um comportamento incompatível com a atividade de Raimundo Jaildo, que reúne força e disposição para encarar a função. Todos os dias ele deixa sua casa às 19h, e dá início a uma rotina de trabalho pouco valorizada, mas essencial para a cidade. Um dos responsáveis pela coleta municipal de lixo, Raimundo atravessa em seu trajeto diversos bairros e vê de perto realidades que poucos enxergam. “Passei a conhecer muito mais a cidade e as histórias do povo”. Seguindo as luzes da noite, o sobe e desce do caminhão segue o ritmo das casas e da arquitetura da capital.

Ao recolher o lixo, ele e os colegas analisam com cuidado objetos em bom estado de conservação. Em apenas 15 minutos, foram encontrados brinquedos, vasilhas e até um pequeno urso de pelúcia, com o qual Raimundo presenteou a equipe do DIÁRIO. “Cada dia é uma surpresa. Quando a coisa é boa, levamos pra casa e damos pra família”. Orgulhoso de sua função, ele garante não pensar em trocar de emprego, porque sabe da importância da sua atuação. “A gente passa e a cidade fica mais limpa por nossa causa. É gratificante”.

E se as ruas já encantam, imagine o rio, que apaixona os que têm uma cidade inteira na moldura de sua janela? Morador da Ilha das Onças, na área ribeirinha, André dos Santos enxerga todos os dias a divisão das águas com o solo da capital. Enquanto alguns viajam para conhecer outras cidades, ele afirma que não há sensação melhor do que aportar na sua terra natal todos os dias. “Saio às 4h da manhã com o carregamento de açaí e chego ao Ver-o-Peso quando o sol nasce”, explica, garantindo que as boas vindas da natureza o brindam com uma das mais belas paisagens que ele já viu. Nascido nas ilhas, ele chegou a morar no centro comercial da cidade, mas não se adaptou. Sua relação com Belém é mais íntima e bucólica. Em sua residência, onde vive com a esposa e um filho pequeno, de 1 ano, ele aproveita a cidade de forma privilegiada.

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